A cidade de Correntina vive uma grave crise na saúde pública, marcada por protestos e demissões em massa no Hospital Municipal. Na última sexta-feira (17), dezenas de profissionais da saúde demitidos pela organização responsável pela gestão do hospital, o Instituto de Gestão Integrada (IGI), tomaram as ruas em uma manifestação. Com cartazes e palavras de ordem, os trabalhadores reivindicaram o pagamento de salários atrasados e denunciaram as condições de suas demissões, que, segundo eles, violaram os direitos trabalhistas.
A mobilização reuniu enfermeiros, técnicos de enfermagem, motoristas, equipes de limpeza e ex-funcionários de outras áreas. Os manifestantes destacaram que cerca de 90% dos trabalhadores foram dispensados, incluindo 100% do corpo médico. A situação causou apreensão na população, que teme impactos diretos na qualidade dos serviços de saúde prestados no município.
Demissões e Protestos dos Profissionais da Saúde




Na quarta-feira (15), dias antes do protesto, Nilton, integrante do IGI, participou de uma reunião com os trabalhadores. Durante o encontro, ele alegou que a ordem para as demissões teria partido da atual gestão municipal, ainda em novembro, que supostamente instruiu o instituto a desligar os profissionais do hospital. Segundo Nilton, essa orientação resultou no afastamento de cerca de 90% da equipe, como: enfermeiros, motoristas e equipes de suporte e 100% da equipe médica.
Entretanto, essa versão já foi refutada pela atual gestão municipal em uma coletiva realizada na semana anterior, com a presença do controlador do município, Gerônimo, do prefeito e de outros membros da administração. Durante o
evento, Gerônimo apresentou um documento que indicava uma dívida pendente da antiga gestão com o IGI. Ele afirmou que os profissionais, especialmente os médicos, deixaram seus postos devido à falta de pagamento dos salários por parte do instituto, e não por qualquer determinação da nova administração.
A controvérsia entre as versões evidencia a falta de consenso sobre as responsabilidades, deixando os trabalhadores em situação de vulnerabilidade. Apesar das acusações trocadas, os profissionais demitidos argumentam que, independentemente de quem é o responsável, o vínculo empregatício foi firmado diretamente com o IGI, que deve garantir o pagamento dos valores atrasados conforme prevê a legislação trabalhista.
Posições Divergentes e Impactos
Enquanto o IGI afirma que a dívida da prefeitura impediu o cumprimento de suas obrigações contratuais, os trabalhadores continuam exigindo respostas. Muitos alegam que, independentemente da origem do problema, o vínculo empregatício foi estabelecido diretamente com o IGI, que deveria honrar os pagamentos. A falta de consenso entre as partes agrava a crise, deixando os profissionais em uma situação de incerteza e prejudicando a população que depende dos serviços de saúde.
Aspectos Legais das Demissões
A demissão em massa de cerca de 90% dos funcionários do Hospital Municipal de Correntina trouxe à tona questionamentos sobre sua legalidade. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não proíbe explicitamente demissões coletivas, mas exige que essas medidas sejam precedidas de negociações com sindicatos representativos dos trabalhadores, conforme entendimento do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
O descumprimento dessa prática pode ser interpretado como uma violação dos direitos trabalhistas, especialmente em instituições públicas essenciais, como hospitais. Os profissionais demitidos destacam que a decisão foi tomada sem comunicação prévia ou diálogo com representantes, o que reforça a possibilidade de judicialização do caso.
Além disso, há dúvidas sobre o impacto dessa medida no cumprimento das obrigações contratuais do IGI e nas garantias estabelecidas em lei. A substituição abrupta de equipes médicas e administrativas pode comprometer a continuidade e a qualidade dos serviços de saúde, afetando diretamente a população.
Atendimento Atual no Hospital Municipal
Apesar da crise, o Hospital Municipal de Correntina segue funcionando com uma nova equipe médica e de enfermagem. Relatos de pacientes na fila indicam tempos de espera variados, com algumas pessoas mencionando atrasos superiores a duas horas.
Por outro lado, nossa equipe visitou a unidade no último sábado à tarde e constatou que, nesse dia específico, o atendimento foi realizado de maneira ágil. Isso aponta para possíveis inconsistências nos fluxos de trabalho, que ainda podem estar em fase de adaptação após as mudanças significativas na equipe.
Reabertura de Unidades de Saúde
Enquanto a crise com os antigos profissionais da saúde persiste, a prefeitura de Correntina avançou com ações para melhorar o atendimento em outras áreas. Na segunda-feira (20), foram reabertas ao público a Unidade de Saúde Santa Helena, o Posto de Atenção da Comunidade Santo Antônio e a unidade de Aparecida do Oeste.

A reabertura dessas unidades foi acompanhada pela secretária de Saúde, Nice do Rosário, que realizou reuniões com as equipes locais para alinhar o trabalho e garantir o pleno funcionamento dos postos. Segundo a gestão municipal, o objetivo é descentralizar os serviços e atender a população de maneira mais eficiente, especialmente em regiões afastadas do centro da cidade.
Posicionamentos Oficiais e Próximos Passos
Nossa equipe entrou em contato com a prefeitura de Correntina para obter mais esclarecimentos sobre as alegações feitas por Nilton, representante do IGI, mas não recebeu resposta até o momento. Também tentamos contato com o IGI para obter informações detalhadas sobre as demissões, repasses financeiros e pagamentos atrasados, mas, mesmo com o adiamento da publicação desta matéria por dois dias, não obtivemos retorno.
Enquanto isso, os profissionais demitidos seguem avaliando medidas judiciais para garantir seus direitos, como o bloqueio das contas do IGI para assegurar o pagamento dos valores devidos, embora alguns outros profissionais em situação de considerada desesperadora pelo salário atrasados aceitaram um acordo de pagamento em 5 parcelas.






