Jornalismo não é vaidade: é técnica, é ética, é ofício

Quase sempre imaginamos que liberdade de expressão é pegar uma caneta ou um celular e sair disparando tudo o que vem à cabeça. E nesse mar de vozes da internet, onde todo mundo quer opinar antes de ouvir, tem crescido a ilusão de que fazer jornalismo é apenas publicar o que se viu, ouviu ou ouviu dizer.

Mas sejamos francos: se bastasse repassar informação, sem critério, técnica ou responsabilidade, por que existiriam faculdades de jornalismo, cursos de capacitação, códigos de ética, métodos de apuração e tantos livros sobre teoria da comunicação?

Jornais

Jornalismo é ofício. É método. É saber que “checagem de fatos” não é só confirmar se algo ocorreu, mas entender por que, quando, em que contexto, com quais implicações — e ouvir todos os lados envolvidos. Não basta “saber de algo” para tornar isso público. É preciso saber o que fazer com essa informação.

Imparcialidade, aliás, não é se esconder atrás do “não tenho lado”. Ser imparcial é garantir que a multiplicidade de vozes tenha espaço, que os argumentos se enfrentem nos fatos, e não nas emoções, como diria meu professor Luiz Signates na PUC-GO. É entender que sua opinião pessoal não deve atravessar a narrativa — ainda que sua consciência queira interferir. Porque, em jornalismo, quem deve formar opinião é o leitor.

O jornalista de verdade sabe que sua função não é ser amigo nem inimigo da fonte, do governo ou de qualquer autoridade. É, antes de tudo, ser comunicador. E como comunicador, deve saber que até o silêncio da fonte é uma resposta — e que a negativa de entrevista não dispensa o dever de buscar o contraditório por meios formais.

Agora imagine a situação: alguém entra num hospital buscando saber sobre a saúde pública. Ao ser informado de que precisa falar com a Secretaria de Saúde, acusa a gestão de esconder informação. Isso é censura? Ou apenas desconhecimento de como se estrutura o acesso às fontes oficiais? Afinal, quem é mesmo a autoridade competente para falar sobre política de saúde pública? E mais: qual a responsabilidade de quem publica esse tipo de crítica sem esse cuidado?

Da próxima vez que você se deparar com uma matéria publicada sem ouvir o outro lado, ou baseada em julgamento pessoal, sem lastro técnico ou contextualização, questione: isso serve à sociedade ou a um interesse específico? Isso é jornalismo ou um desabafo travestido de manchete? Isso informa ou apenas espalha confusão?

Se tudo fosse só opinião, bastava um blog. Se fosse só eco, bastava um alto-falante. Mas o jornalismo verdadeiro exige mais que vontade: exige formação, ética, escuta e compromisso. Nem sempre o que soa mais barulhento é o que traz a verdade — às vezes, é só o que mais grita.

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