O incêndio que atingiu ontem a Avenida Sete Ilhas colocou a vida de famílias em risco real. O fogo consumiu terrenos baldios, saltou muros e avançou até os quintais das casas, forçando moradores a agir por conta própria enquanto a fumaça cobria o bairro. Crianças, idosos e recém-nascidos foram expostos a gases tóxicos que dificultavam até a respiração.
As chamas se espalharam em poucos minutos, empurradas pelo vento e pela vegetação seca. Muros ficaram cercados de labaredas, janelas foram fechadas às pressas e moradores correram com baldes e mangueiras improvisadas. O que deveria ser apenas uma tarde comum se transformou em pânico, alimentado por um gesto de descaso: segundo vizinhos, alguém já conhecido na região teria mais uma vez ateado fogo para “limpar” o terreno.
O fogo que ameaça vidas e contamina o ar
O incêndio não destruiu apenas mato. A fumaça carregada de partículas tóxicas se espalhou pelo bairro, invadindo casas e sufocando moradores. Crianças tossiam sem parar, idosos relatavam falta de ar e recém-nascidos eram expostos a uma poluição capaz de gerar problemas duradouros. O ar de uma comunidade inteira foi envenenado em questão de minutos.
Esse tipo de prática, ainda tratado por alguns como “costume”, é na verdade uma ameaça coletiva. Em áreas urbanas, o fogo descontrolado pode provocar explosões de botijões de gás, curto-circuitos em fiações e até mortes. Quando alguém decide riscar um fósforo em um lote vazio, não está apenas queimando folhas secas: está colocando vizinhos inteiros em perigo.
O Decreto Municipal nº 516/2017 e o Código de Posturas nº 027/2012 proíbem a queima de lixo e entulho em áreas urbanas. A legislação federal reforça que provocar incêndio é crime ambiental, sujeito a multa e até reclusão em casos graves. Ainda este ano, um morador do Ranchão foi multado em R$ 500 por incendiar lixo no quintal, prova de que a fiscalização existe e pode punir. Mas a repetição dos casos mostra que a lei, sozinha, ainda não foi suficiente para conter a imprudência.
No fundo, a pergunta permanece: até quando Correntina vai conviver com o hábito de usar fogo como se fosse ferramenta de limpeza? Enquanto uns veem cinzas como solução rápida, o preço é pago em ar poluído, em saúde comprometida e em risco de tragédias cada vez mais próximas.
Brigadistas formados atuaram no combate
Se o incêndio não virou tragédia maior, foi porque hoje a cidade conta com brigadistas treinados. No início deste ano, cursos de capacitação foram oferecidos para preparar voluntários e formar uma rede de apoio no enfrentamento de queimadas. Dessa iniciativa surgiu o Corpo de Bombeiros Civis de Correntina (CDBC-CRR), que já atua em ocorrências como a da Avenida Sete Ilhas.
Ontem, foram eles que ajudaram a conter as chamas. Em parceria com moradores, a equipe se mobilizou para isolar áreas de risco e evitar que o fogo alcançasse residências. O trabalho não elimina o trauma das famílias que passaram a noite com o cheiro de fumaça impregnado nas paredes, mas mostra que prevenção e treinamento podem salvar vidas quando a irresponsabilidade de poucos ameaça a coletividade.
Bombeiros civis: quem são e como atuam
O CDBC-CRR é formado por profissionais especializados em combate e prevenção a incêndios, resgates em água, selva e ar, além de cursos e palestras educativas. A equipe atual é composta por BC Raiane Castro, BC Tatson Brandão e BC Rodrigo Castro.
O grupo atua todos os dias, em toda a região, oferecendo serviços de combate emergencial, controle de fluxo em desastres e apoio comunitário em situações de risco. É uma presença já reconhecida pela população, mas que precisa ser fortalecida com conscientização coletiva.
📞 Telefones: (77) 92007-1079 / (77) 99834-7444
📧 E-mail: cdbccrr@gmail.com
👨🚒 Formação: bombeiros civis e socorristas
A lição que o fogo deixa
O incêndio da Avenida Sete Ilhas foi contido, mas deixou uma marca clara: cada queimada é uma ameaça à vida de todos. A desculpa da “limpeza rápida” esconde a irresponsabilidade de quem prefere jogar o problema no ar, afetando vizinhos, poluindo rios e adoecendo a comunidade.
Enquanto a lei não for respeitada e o senso coletivo não falar mais alto, a cidade seguirá vivendo sob risco de novas tragédias. Ontem foi o susto de um bairro inteiro. Amanhã pode ser a perda irreparável de vidas.