Por Lúcio Vérnon | Folha Corrente

A última semana de agosto deve marcar o início de uma das obras mais aguardadas da história recente de Correntina: a construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e da nova rede coletora que vai atender toda a região central da cidade. O projeto, que passou anos travado por embargos judiciais e risco de perda de recursos, finalmente sairá do papel com verbas asseguradas, licitação refeita com legalidade e empresa contratada. A obra é vista como um divisor de águas para a saúde pública, a preservação ambiental e o futuro da cidade.

Prefeito Mariano Correntina reunido com equipe técnica e representantes da empresa contratada para a execução da Estação de Tratamento de Esgoto, analisando plantas e cronograma da obra no gabinete da Prefeitura de Correntina.

Serão mais de 1.800 imóveis beneficiados já nesta primeira fase. A intervenção começa pelo setor central, alcançando também os bairros São Lázaro, Deocleciano Silva, parte do bairro Ouro, além de áreas turísticas e de grande circulação como o Ranchão e a Praça do Bazu. Esses locais há anos despejam esgoto diretamente no leito do Riacho Vermelho, que deságua no Rio das Éguas, comprometendo a qualidade da água, o equilíbrio ecológico e a saúde de centenas de famílias. O novo sistema prevê a instalação de uma estação elevatória e o envio dos resíduos para a ETE, que será capaz de tratar até 90% da carga orgânica antes de devolver a água limpa ao meio ambiente.

Para o prefeito Mariano Correntina, a obra representa mais que uma intervenção de infraestrutura: é um marco civilizatório. “Desde que vencemos as eleições, estamos lutando para destravar esse projeto. Encontramos um processo amarrado, com risco real de perder os recursos. Recomeçamos do zero, com seriedade e responsabilidade, e agora a população vai ver essa mudança acontecer. Correntina vai deixar de lançar esgoto no seu próprio rio. Isso é respeito com a natureza, com a população e com o futuro do município”, afirmou o prefeito ao anunciar oficialmente o início da obra.

Os recursos são oriundos da ONG Peixe Vivo e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Estavam em conta desde 2024, mas o município quase os perdeu após a anulação judicial da licitação feita no fim da gestão passada. A atual administração refez o processo, corrigiu falhas e garantiu a retomada do investimento. Segundo o secretário de Governo e Planejamento, Rodrigo Fitcher, a nova licitação seguiu todos os critérios legais e contou com apoio técnico da equipe de engenharia da Prefeitura. “O prefeito pediu que fosse tudo feito com agilidade e segurança jurídica. Trabalhamos muito para garantir esse resultado. A empresa já está mobilizada, a ordem de serviço será assinada nos próximos dias e a obra começa no fim de agosto”, confirmou.

O engenheiro Aglailson Neves, responsável pelo planejamento e execução da obra, explicou que a primeira etapa foi desenhada para atender a área mais crítica da cidade, tanto em densidade populacional quanto em impacto ambiental. “É onde temos maior volume de esgoto e maior risco sanitário. Essa obra vai eliminar o piscinão a céu aberto que há décadas serve como ponto de despejo no centro da cidade, próximo à igreja matriz. No lugar dele, construiremos a estação elevatória, que vai integrar todo o novo sistema. A ETE foi projetada para permitir futuras expansões, atendendo ao crescimento da cidade sem a necessidade de novas estruturas”, afirmou.

Além da questão ambiental e sanitária, a obra deve impulsionar a economia local durante os 12 a 15 meses de execução previstos. A determinação do prefeito é clara: prioridade para mão de obra local e aquisição de materiais no próprio município. Isso deve gerar empregos diretos e indiretos, fortalecer o comércio, movimentar a construção civil e ampliar o efeito positivo da obra para além do seu aspecto técnico.

Segundo Fitcher, o lançamento da ETE é só o primeiro passo de um plano maior para o saneamento do município. A equipe técnica já iniciou o estudo da macrodrenagem e do esgotamento sanitário de outros bairros e distritos, incluindo Rosário, São Manoel e as comunidades maiores da zona rural. “A meta do prefeito é alcançar 100% de cobertura. Vamos buscar apoio do Ministério das Cidades e de parlamentares parceiros para garantir os recursos necessários”, afirmou.

Para uma cidade que nasceu à beira do rio e sempre teve nas águas do Rio das Éguas — Correntina — sua principal referência geográfica, cultural e espiritual, o início dessa obra representa mais do que engenharia: é um gesto de reparação histórica. Ao cuidar do esgoto, Correntina cuida também da sua dignidade, da saúde do seu povo e da continuidade da vida em torno do que é seu maior símbolo: o rio que a batiza e a mantém viva.

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