Hoje, 25 de agosto, a Casa da Cultura “Iôzinho Costa” completa oito anos. O espaço nasceu do sonho do saudoso José Rocha França, que já nos anos 70 insistia que Correntina precisava de um lugar onde a memória popular pudesse respirar. E nada mais justo que lembrar de Zé França neste dia, porque a Casa é a materialização de sua visão: um espaço que acolhe reisado, lapinha, oficinas e encontros que dizem muito mais sobre quem somos do que qualquer prédio de concreto frio.

É necessário, antes de tudo, parabenizar a Prefeitura de Correntina por manter viva essa casa. Em tempos em que tantas cidades deixam ruir seus espaços culturais, vê-la de portas abertas é motivo de orgulho. Mas aqui começa a contradição que não podemos ignorar: de um lado, celebramos a Casa da Cultura; do outro, assistimos calados ao desmonte silencioso de nossas fachadas, casarões e memórias arquitetônicas.

 

Antiga prefeitura - hoje Casa Iozinho Costa

O Cine Teatro foi demolido, na década de 70, mesmo com a resistência de José França. E de lá para cá, a cena se repete: quantos prédios de traço histórico já foram derrubados em nome da pressa, da modernidade ou da especulação? Em seus lugares, ergueram-se casas retas, sem cor, sem alma, todas iguais, todas com o mesmo aspecto de caixa de fósforos. É essa a imagem que queremos legar às próximas gerações?

Não basta dizer que amamos nossa cultura enquanto aplaudimos reisados no palco, se na prática desmontamos as marcas físicas que contam nossa história. Amar cultura não é discurso de festa junina, é compromisso diário com a preservação.

É hora dos vereadores assumirem a responsabilidade e criarem leis que estabeleçam freios à destruição do nosso patrimônio. Correntina precisa convocar o IPHAN para realizar estudos técnicos, tombamentos e medidas que impeçam a descaracterização de nossas ruas e fachadas históricas. Sem isso, continuaremos entregando nossa identidade ao esquecimento em nome de um progresso vazio.

Porque o que está em jogo não é apenas arquitetura, mas identidade. O que se perde quando se derruba uma fachada antiga não volta com tijolo novo. É como arrancar páginas de um livro que nunca será reimpresso.

E exemplos não nos faltam. Ouro Preto, Paraty, Olinda, Goiás Velho — cidades que, ao manter suas fachadas coloniais e casarões preservados, não apenas contaram sua história, mas transformaram sua memória em fonte de renda. Ali, as pedras antigas e os sobrados coloridos atraem visitantes do mundo inteiro, gente que atravessa fronteiras para sentir de perto a atmosfera de uma cidade que respeita sua própria história. Enquanto isso, nós seguimos tratando o passado como estorvo, abrindo mão de um patrimônio que poderia ser, também, motor de desenvolvimento e turismo.

José Rocha França - Acervo da Família França
One thought on “Entre memórias e caixas de fósforos: o aniversário da Casa da Cultura e a nossa contradição”
  1. É difícil falar em preservar a cultura, se a cidade está perdendo a sua autenticidade, a onda agora é imitar Goiás, infelizmente!

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