Por Lúcio Vérnon | Folha Corrente
Uma denúncia publicada na noite de terça-feira (19), em um veículo de comunicação local em parceria com outro de fora, repercutiu nas redes sociais ao atribuir exclusivamente ao município a responsabilidade pela falta de tiras de glicemia e insumos para pacientes diabéticos, através de uma suposta denúncia anônima, muito embora, horas antes da publicação, o vereador de oposição Eliton da Multicell ter feito a mesma acusação em vídeo no Instagram, o que levantou suspeitas sobre a origem e o caráter “anônimo” da denúncia.
A discussão na Câmara
No plenário, o vereador Nelson Carinha levou documentos para rebater as acusações e esclarecer a origem do problema. Segundo ele, até outubro de 2025 a responsabilidade pelo fornecimento dos insumos ainda é do Governo do Estado da Bahia, cabendo ao município apenas formalizar os pedidos dentro do prazo.
Nelson apresentou cópias de ofícios, protocolos e relatórios que mostram que os pedidos foram feitos corretamente pela gestão municipal, mas não atendidos na totalidade pela Secretaria Estadual de Saúde. Ele destacou, por exemplo, que no dia 3 de setembro foram solicitadas 15 mil unidades de insumos pela servidora Laura Regiane, mas em 8 de setembro o Estado liberou apenas 3 mil — e, ao retirar, não havia nada disponível em estoque.
Ainda segundo o parlamentar, a denúncia divulgada nas redes foi “infeliz” ao responsabilizar apenas a Prefeitura, omitindo a instância estadual. “O município cumpriu sua parte. Foi muito bem atendido por Laura Regiane e Kaique, mas não recebeu o material porque o Estado não entregou”, afirmou.
Debate e repercussão
O assunto gerou discussão em plenário. O vereador Maradona questionou: “Então, se for para denunciar, tem que denunciar o governo
do Estado, é isso?”. Nelson confirmou: “Isso mesmo. O município fez o pedido, apresentou a documentação, mas a entrega não aconteceu como deveria”.
Nesse momento, a fala de Eliton da Multicell se voltou contra Nelson Carinha, com críticas pessoais. Eliton acusou o colega de mudar de opinião em momentos diferentes e insinuou que o que “ele fala, não se escreve”. A troca de farpas desviou parte da discussão para o campo político, mas não impediu que os documentos fossem mostrados à população.
A responsabilidade pelo fornecimento
A polêmica expôs uma questão central: a partir de novembro de 2025, conforme pactuação da Comissão Intergestores Bipartite (CIB/BA) publicada no Diário Oficial, a obrigação de compra e distribuição de insumos para diabéticos passará a ser integralmente dos municípios. Até lá, permanece sob responsabilidade do Estado.
Essa transição de responsabilidade explica por que os documentos apresentados por Nelson Carinha fortalecem o argumento de que a Prefeitura cumpriu sua parte, mas não recebeu o material solicitado. Os protocolos e relatórios juntados ao debate, e também entregues ao jornal para consulta, mostram que os pedidos foram feitos dentro do prazo, reforçando a transparência do processo.
Caminhos a seguir
O episódio revelou não apenas o problema no fornecimento, mas também a força das redes sociais em amplificar denúncias sem checagem prévia. Aliás evidencia também que o denuncismo que foi construído nessas últimas semanas, ou mesmo meses, precisa antes de tudo, uma checagem verdadeira dos fatos, a busca pelo documento, até porque esse é o papel de quem denuncia, ter provas concretas para não transformar pacientes diabéticos em instrumento de disputa política.
A partir de novembro, o município terá o desafio de garantir recursos próprios e logística para a compra direta dos insumos, evitando descontinuidade no atendimento. Até lá, os vereadores afirmaram que seguirão acompanhando a atuação do Estado e, se necessário, encaminharão representações formais aos órgãos de controle, como o Ministério Público.